
PSICANÁLISE E FÉ CRISTÃ
Entre os numerosos amigos de Freud contava-se o suíço Oskar Pfister. Pouco conhecido hoje, Pfister possuía um perfil especial. Era muito diferente de Freud em vários aspectos, inclusive no aspecto religioso. Sabemos que Freud se definia como um “herege incurável”, enquanto Pfister, além de religioso, era também teólogo e pastor da Igreja Reformada Suíça.
Influenciado por Freud, ele, que era professor, tornou-se também psicanalista, supervisionado por Jung, um dos amigos dissidentes do mestre. Apesar das diferenças quanto à religião, Freud e Pfister mantiveram, durante quase trinta anos, uma amizade tão estreita a ponto de frequentarem a casa um do outro, trocando presentes e confidências, além de uma vasta correspondência. As cartas trocadas entre os dois tratam de tudo: desde correntes de ideias sobre psicanálise e ética, até fatos corriqueiros do cotidiano.
De temperamento pacífico, cordato, Pfister figura entre os poucos seguidores de Freud a manter fielmente a amizade com o mestre. Frequentando o ambiente doméstico dos Freud, Pfister acabou se tornando amigo de toda a família. Num depoimento, em 1962, Anna, a filha de Freud, relata não haver, no modo simples e discreto de Pfister, nada que lembrasse a atitude científica, apaixonada e impaciente dos outros discípulos e pioneiros da psicanálise. Parte da correspondência entre eles saiu publicada na década de 60 em vários países. No Brasil, ela foi reunida em livro sob o título “Cartas entre Freud e Pfister (1909-1039) – Um Diálogo entre a Psicanálise e a Fé Cristã”, com tradução de Karin Kepler e edição conjunta do Corpo de Psicólogos e Psiquiatras Cristãos e da Editora Ultimato.
Em 1927, Freud publicou “O Futuro de uma Ilusão”, em que trata de sua posição contrária à religião, sob quaisquer formas. E confessa ter adiado a publicação da obra, exatamente para não constranger o amigo Pfister. A resposta de Pfister não se fez esperar. Da Suíça, ele escreve a Freud: “sua rejeição da religião não me traz nada de novo. Um adversário de grande capacidade intelectual é mais útil à religião que mil adeptos inúteis”. E no ano seguinte, rebatendo as ideias de Freud, Pfister publica “A Ilusão de um Futuro”.
A tradição religiosa reformista, à qual se filiava o pastor Oskar Pfister, seguramente lhe serviu de apoio, mas, sem dúvida, sua ligação peculiar com a psicanálise foi uma escolha pessoal. Um estudo de Maria Luísa Gomez aponta a adoção da psicanálise como referencial teórico para compreender os fenômenos psíquicos com os quais se deparava em suas atividades de educador e pastor religioso, como a principal motivação que o fez aderir às teses de Freud, bem como a adotar a técnica psicanalítica como instrumento de intervenção naquelas áreas. A leitura da correspondência entre Freud e Pfister nos instiga a examinar, com cuidado, os limites prováveis e possíveis entre a teoria, a clínica psicanalítica e a fé religiosa, não obstante ser o terreno perigoso e escorregadio.
Shyrley Pimenta
Psicóloga clínica
Uberlândia (MG)
Fonte (21/09.2017). http://www.correiodeuberlandia.com.br/colunas/pontodevista/psicanalise-e-fe-crista/
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