
Depressão, vamos conversar
Francisco Antunes Filho
12/12/2017
A Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou a Campanha “Depressão: Vamos Conversar", a qual nos traz um alerta para a situação que o mundo se encontra diante do aumento significativo da depressão.[1] A depressão é a alteração afetiva mais estudada e falada na atualidade. A depressão tem atingido amplos grupos sociais sem distinção entre eles e, constantemente, está associada como comorbidade a outras doenças. Cavalcante (1997) fala que a existência da depressão começa a partir da interação social da qual o indivíduo participa. Dessa maneira, Cavalcante entende a depressão como sendo “um fenômeno cuja dimensão maior ou menor é um processo de interação social” (p.2), sendo causada pela comunidade da qual faz-se parte.[2] Corrobora também Skinner (1995) fala que o comportamento é controlado pelo ambiente e este modela e mantém repertórios de comportamento, mas também serve como ocasião para que ele ocorra.[3]
A Depressão altera a maneira como a pessoa vê o mundo e sente a realidade, entende as coisas, manifesta emoções, sente a disposição e o prazer com a vida. Ela afeta a forma como a pessoa se alimenta e dorme, como se sente em relação a si próprio e como pensa sobre as coisas. As pessoas com depressão normalmente apresentam vários dos seguintes sintomas: apatia; irritabilidade; perda de interesse; perda de energia; alterações no apetite; dormir mais ou menos do que se está acostumado; ansiedade; concentração reduzida; indecisão; inquietação; tristeza; sentimentos de inutilidade, culpa ou desesperança; múltiplas queixas somáticas (insônia, fadiga, anorexia); e pensamentos de autolesão ou suicídio. Ela constitui a manifestação mais comum dos distúrbios afetivos, podendo variar de uma condição muito discreta até a depressão grave, acompanhada de alucinações e delírios.
Existem diferentes fatores que podem causar sintomas depressivos, os quais decorrem das relações e situações, cotidianamente, vividas na sociedade contemporânea. A American Psychiatric Association e o Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM V) classifica clinicamente a depressão como: “... transtorno disruptivo da desregulação do humor, transtorno depressivo maior (incluindo episódio depressivo maior), transtorno depressivo persistente (distimia), transtorno disfórico pré-menstrual, transtorno depressivo induzido por substância/medicamento, transtorno depressivo devido a outra condição médica, outro trans-torno depressivo especificado e transtorno depressivo não especificado.”[4]
O Transtorno Depressivo Maior é que chamamos comumente de depressão. A depressão é angustiante, e se dependesse apenas da pessoa, ela certamente não permaneceria nesse estado. A depressão precisa de tratamento. Quais são os sintomas que as pessoas portadoras do TDM[5] possuem? Para se encaixar no critério para TDM, a pessoa precisa apresentar cinco dos sintomas abaixo, sendo que o sintoma 1 ou o 2 precisam estar presentes:
1. Humor deprimido na maior parte do dia, quase todos os dias
2. Interesse ou prazer marcadamente diminuídos em relação a todas ou quase todas as atividades, quase todos os dias
3. Perda ou ganho de peso significativo
4. Insônia ou sono excessivo quase todos os dias
5. Agitação ou lentidão psicomotora quase todos os dias
6. Fadiga ou perda de energia quase todos os dias
7. Sentir-se sem valor ou com culpa excessiva, quase todos os dias
8. Habilidade reduzida de pensar ou se concentrar, quase todos os dias
9. Pensamentos recorrentes sobre morte, pensamentos suicidas sem um plano, tentativa de suicídio ou plano para cometer suicídio
Para que se considere que a pessoa esteja em depressão, os sintomas precisam causar impacto significativo no convívio social, no trabalho ou em outras áreas importantes.
Os índices de pessoas acometidas de ansiedade e depressão justificam uma procura maior por um tratamento psicanalítico. Não é exagero referir-se a ela como o mal do século XXI. A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que “a depressão é a principal causa de problemas de saúde e incapacidade em todo o mundo. De acordo com as últimas estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 300 milhões de pessoas vivem com depressão, um aumento de mais de 18% entre 2005 e 2015. E que nas Américas, cerca de 50 milhões de pessoas viviam com depressão em 2015, ou seja, cerca de 5% da população.”[6]
O Brasil é o país com a maior taxa de pessoas com transtornos de ansiedade no mundo e o quinto em casos de depressão. Segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS) 9,3% dos brasileiros têm algum transtorno de ansiedade e a depressão afeta 5,8% da população. De acordo com a OMS, no Brasil, em 2015, eram 11,5 milhões com a doença e 18,6 milhões com transtorno de ansiedade. No panorama mundial, as mulheres são as principais afetadas: 5,1% são depressivas. Entre os homens, a taxa é de 3,6%.[7]
Mas, qual é a real necessidade de um tratamento psicanalítico? Shekhar Saxena, Diretor do Departamento de Saúde Mental e Abuso de Substâncias da OMS afirma: "Uma melhor compreensão da depressão e como ela pode ser tratada, embora essencial, é apenas o começo. O que precisa ser seguido é a expansão sustentada dos serviços de saúde mental acessíveis a todos, até mesmo às populações mais remotas do mundo".[8]
Diante do exposto, fica o desafio para o Governo brasileiro investir mais na área da saúde mental, uma vez que apenas 3% dos orçamentos de saúde de governo são investidos em saúde mental. Todo depressivo precisa de tratamento. Por isso, “Depressão: Vamos Conversar".
[1] Organização Mundial da Saúde (OMS). Com depressão no topo da lista de causas de problemas de saúde, OMS lança a campanha “Vamos conversar” http://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=5385:com-depressao-no-topo-da-lista-de-causas-de-problemas-de-saude-oms-lanca-a-campanha-vamos-conversar&Itemid=839 Fonte consultada: 12/10/2017
[2] Cavalcante, Simone Neno. (1997). Notas sobre o Fenômeno Depressão a Partir de Uma Perspectiva Analítica Comportamental. Revista de Psicologia, Ciência e Profissão, vol 17 (2). 2-12.
[3] Skinner, B. F. (1995). Questões Recentes na Análise Comportamental. Trad. Anita
Liberalesso Néri. Campinas, SP. Papirus Editora.
[4] Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. (DSM-5). 5ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. p. 155
[5] Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. (DSM-5). 5ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. p. 160
[6] Organização Mundial da Saúde (OMS). Com depressão no topo da lista de causas de problemas de saúde, OMS lança a campanha “Vamos conversar” http://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=5385:com-depressao-no-topo-da-lista-de-causas-de-problemas-de-saude-oms-lanca-a-campanha-vamos-conversar&Itemid=839 Fonte consultada: 12/10/2017
[7] Jornal Estado de São Paulo. Brasil tem maior taxa de transtorno de ansiedade do mundo, diz OMS. Jamil Chade e Isabela Palhares, O Estado de S. Paulo. 23/02/2017 http://saude.estadao.com.br/noticias/geral,brasil-tem-maior-taxa-de-transtorno-de-ansiedade-do-mundo-diz-oms,70001677247 Fonte consultada 12/10/2017
[8] Organização Mundial da Saúde (OMS). Com depressão no topo da lista de causas de problemas de saúde, OMS lança a campanha “Vamos conversar” http://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=5385:com-depressao-no-topo-da-lista-de-causas-de-problemas-de-saude-oms-lanca-a-campanha-vamos-conversar&Itemid=839 Fonte consultada: 12/10/2017
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